Os livros da Sofia Dias e do Vítor Roriz
Os livros da Sofia Dias e do Vítor Roriz
Aqui podes encontrar vários livros que orbitam à volta do espetáculo Uma partícula mais pequena que um grão de pó.
ALTO, BAIXO, NUM SUSSURRO, de Romana Romanyshyn, ed. Orfeu Negro
Foi neste livro sobre o som que encontrámos uma frase que tem tudo que ver com este espetáculo: “…às vezes precisamos de silêncio (…) para ouvirmos os sons mais subtis.” Tal como na música treinamos o nosso ouvido para diferenciar certas notas e tons, também podemos treinar o nosso ouvido para identificar os sons subtis que a barulheira do dia-a-dia não nos deixa ouvir. Os sons dos pássaros, dos insetos e até mesmo dos rios e das montanhas. A certa altura deste espetáculo, perguntamos – “o que diz o rio?” – e vemos umas pessoas na plateia a levantar o sobrolho e a pensar, “mas então os rios falam?” O que é que tu achas? Já fizeste a experiência de olhar para um rio ou para uma montanha e pensar no que diriam, ou no que sentem? É algo que normalmente fazemos com outras pessoas e, quando nos imaginamos no seu lugar, chamamos a isso empatia, não é? Aliás, nesta peça não estamos só a pensar nas “vozes” das florestas, dos rios e das montanhas, mas numa sensibilidade especial que nos permite ouvir as vozes mais subtis que, por vezes, não se ouvem dentro de uma escola ou de uma comunidade.
O JARDIM CURIOSO, de Peter Brown, ed. Caminho
Um outro livro de que gostávamos de vos falar é “O Jardim Curioso”. Sem querer contar demasiado, o livro começa com um rapaz, o Jorge, que “descobre numa linha férrea abandonada, umas plantas a morrer.” O Jorge cuida dessas plantas e depois elas crescem, florescem e transformam-se num jardim enorme que percorre toda a cidade. É um belo conto sobre como podemos transformar o lugar onde vivemos com a nossa imaginação, dedicação e paixão. Mas nós gostamos de pensar nessa história ao contrário. Isto é, quem estava a “morrer” não eram as plantas, mas sim a cidade (“um lugar muito desolado”) e as pessoas que lá viviam (“passavam o tempo dentro de casa”). Parece que as pessoas e a cidade precisavam mais dessas plantas do que as plantas precisavam de ser salvas. Às pessoas fazia falta uma motivação para sair de casa e à cidade fazia falta mais verde e menos poluição. Aliás, parece-nos que, em geral, as plantas não precisam de ser salvas, apenas “ouvidas” e compreendidas (alguém franziu o sobrolho!?). E foi isso que o Jorge fez: percebeu as plantas e elas falaram com a sua exuberância e capacidade de transformar os lugares e as pessoas.
Mas há ainda outro detalhe curioso nesta história. É que as plantas que “abrem caminho” pela cidade são sobretudo ervas daninhas e musgos. Sabes que com o passar do tempo, nós fomos apreciando cada vez mais essas plantas que se encontram um pouco por todo o lado: nas bermas da estrada, entre as pedras da calçada, nos buracos das fachadas de prédios velhos ou abandonados. Já alguma vez reparaste nelas? E já pensaste na força que têm para conseguirem viver nos lugares mais inóspitos? São exatamente essas plantas que nós imaginamos a surgir no meio do palco, aquelas que desenhamos com o nosso corpo. E, por fim, convém não esquecer que a nossa existência e a de todos os outros animais, só é possível graças às plantas. Afinal são elas que produzem oxigénio.
CÁ DENTRO – GUIA PARA DESCOBRIR O CÉREBRO, de Isabel Minhós Martins, Maria Manuel Pedrosa e Madalena Matoso, ed. Planeta Tangerina
Uma grande parte do processo criativo desta peça aconteceu num estúdio da Fundação Champalimaud, em Lisboa. E foi uma das neurocientistas que trabalha na Fundação e que também foi revisora do livro “Cá dentro”, a Patrícia Correia, que nos aconselhou a sua leitura. Aprendem-se imensas coisas com o “Cá dentro”, mas o capítulo que gostaríamos de chamar atenção é o da Experiência Estética e que fala sobre isto de vermos e/ou fazermos arte. Algures nesse capítulo diz-se que “Uma obra de arte pede a cada um dos cérebros que a vê, ouve ou lê que faça a sua própria interpretação, que se interrogue, que lhe acrescente qualquer coisa sua…” Esta peça, também precisa que lhe acrescentes qualquer coisa tua, porque depende muito da tua imaginação e da tua capacidade de ver surgir em palco, por exemplo, uma paisagem apenas sugerida pelos gestos e movimentos dos nossos corpos.
INVENTÁRIO DAS ÁRVORES, de Virginie Aladjidi e Emmanuelle Tchoukriel, ed. Faktoria de livros
Antes de falarmos sobre este livro, queríamos falar-te de um estudo feito nos Estados Unidos da América onde se percebeu que crianças com idades entre os 4 e os 10 anos eram capazes de reconhecer e distinguir mais de mil marcas e logótipos de empresas mas, em contrapartida, não conseguiam identificar as folhas de dez árvores da sua região. A diferença é tão grande que temos de repetir, as crianças conseguem identificar 1000 marcas e não chegam a identificar 10 folhas de árvores. A julgar pela nossa própria experiência, apostamos que com a maior parte dos adultos se passa a mesma coisa. Quando lemos acerca deste estudo, lembrámo-nos da célebre frase de Baba Dioum, um ecologista Senegalês, que é mais ou menos assim: “no final, só conservamos aquilo que amamos, só amamos aquilo que conhecemos e só conhecemos aquilo que aprendemos”. Por isso, aqui vai a sugestão de um livro, entre muitos, sobre folhas de árvores, para podermos aprender sobre elas e, sobretudo, com elas.
LÁ FORA – GUIA PARA DESCOBRIR A NATUREZA, de Maria Ana Peixe Dias, Inês Teixeira do Rosário e Bernardo P. Carvalho, ed. Planeta Tangerina
Se vos falamos do “Cá dentro”, não poderíamos deixar de vos falar do seu “irmão”, “Lá fora”. Mas fazemo-lo por uma razão muito simples e em continuidade com o que escrevemos anteriormente sobre o “Inventário das árvores”. Pois neste “Lá fora” também poderás encontrar muitas ilustrações e imagens que te permitirão identificar árvores, répteis, insectos e mamíferos que vivem na nossa região mas também, informações curiosas sobre a forma das nuvens ou os tipos de rochas. Mas mais importante do que isso, é que este livro é um convite a passarmos mais tempo no espaço exterior. Robert Pyle, um escritor e lepidopterologista (sim, é uma óptima palavra para consultares no dicionário) dizia que estamos a viver uma “Extinção da experiência” quotidiana com a natureza. Isto é, estamos a passar menos tempo com as plantas e os animais. O problema disto é que, para além de não estarmos a tirar partido dos benefícios para a nossa saúde e bem-estar, a falta de relação com a natureza também provoca um género de desapego ou desinteresse, o que poderá estar relacionado com a crise ecológica que estamos a viver. Por isso, o melhor a fazer é pegar neste livro e ir lá para fora o máximo de tempo possível e aprender e tornarmo-nos íntimos dos rios, das montanhas, dos bosques e dos seres que os habitam. Até há uma iniciativa que se chama 1000 horas no exterior (vê na internet: 1000 hours outside) para ver se consegues passar esse número de horas na natureza durante um ano.