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Livros espetaculares (mesmo!) para Poemas de Pé para a Mão

Sara Amado
Fotografia de cena

O que é a poesia? O que pode ser a poesia? Apetece dizer, como Le Corbusier sobre a arquitetura, que “é o jogo sábio, correto e magnífico dos volumes dispostos sob a luz”; a poesia pode ser então o jogo sábio, correto e magnífico das palavras dispostas num texto — em papel ou na boca, nos olhos ou nos ouvidos.

Estes poemas e histórias enrolam e desenrolam as palavras, os seus sentidos, significados, sentimentos e famílias. Constroem frases espantosas porque, nelas, as palavras são usadas para a frente e para trás, de um lado para o outro, no verso e no reverso. As palavras são importantes, sim, e o que fazemos com elas ainda mais.

Para acompanhar estes Poemas de Pé para a Mão, escolhi livros que andam às voltas com as palavras: que brincam com elas, que lhes dão novos significados, que as baralham e voltam a dar… nos!

 

O dicionário do Menino Andersen
(Gonçalo M. Tavares e Madalena Matoso, ed. Planeta Tangerina)

Um dicionário é um livro onde se pode encontrar o significado de todas as palavras. Mas o que significa significado? Bem, significado pode ser a vida das palavras. Por isso, imagina: se pudesses oferecer outras vidas às palavras, que fariam elas com essa oportunidade? Se olharmos para as palavras com um olhar novo (como aquele que usamos quando vemos algum lugar de muito alto, por exemplo), elas podem mesmo ser outras coisas, viver outras vidas! Como nestes poemas, como neste dicionário.

 

Telefone sem fio
(Ilan Brenman e Renato Moriconi, ed. Companhia das Letrinhas)

Normalmente, um mal-entendido é uma coisa muito chata, como um fio que se enrola à volta do nosso tornozelo e nos faz cair.

O “telefone estragado” é um mal-entendido muito divertido. Há frases que nos atiram para uma enorme gargalhada porque há palavras que, usadas ao pé de outras, constroem grandes disparates. E há outras que constroem verdadeiros poemas!

Vamos jogar?

 

A contradição humana
(Afonso Cruz, ed. Caminho)

O Homem é um bicho estranho porque gosta e precisa de muitas coisas, mas também do seu contrário.

A condição humana é o título de um livro de uma grande pensadora onde ela escreve sobre existir. A contradição humana é o título deste livro que fala da mesma coisa, mas a partir dos pensamentos de um menino sobre a sua vida e a vida dos outros à sua volta, os seus vizinhos. Ele há gente bem estranha… ou será que não?

 

Achimpa
(Catarina Sobral, ed. Orfeu Negro)

Inventamos frases novas todos os dias. Os escritores ou os poetas têm mesmo esse ofício. E as palavras, quem as inventou? Quem lhes deu significado? Quem usou primeiro “maçã” para maçã e “amigo” para amigo?

E se inventássemos uma palavra nova? Se não inventássemos também o seu significado, haveria grande confusão.

 

Esdrúxulas, graves e agudas, magrinhas e barrigudas
(José Fanha e Afonso Cruz, ed. Texto)

As palavras têm nomes e apelidos, famílias e propriedades, tal como as pessoas. Têm apelidos estranhos como Esdrúxulas, Graves ou Agudas e usam chapéus diferentes consoante o seu apelido.

Mas, antes disso tudo, têm um esqueleto para se aguentarem em pé: as sílabas. É por isso que há umas maiores, que demoramos muito tempo a dizer (ou a escrever), e outras mais pequenas, que, mal começamos a dizer (ou a escrever), já acabaram. Sim.

 

Ké iz tuk?
(Carson Ellis, ed. Orfeu Negro)

Escrever implica seguir regras: combinámos escrever as palavras de determinada maneira para todos conseguirmos compreendê-las e não haver mal-entendidos. Mesmo assim, às vezes há grandes confusões com as palavras que se escrevem ou dizem da mesma maneira. Mas i ce xquecêrmus as régras descrita? Consguiremus com tinuaraentender nus?

 

E tu, vês o que eu vejo?
(Ed Emberley, ed. Bruaá)

Quando estamos a aprender a ler, as letras deixam de ser só desenhos e começam a juntar-se em pequenos (ou grandes!) comboios cheios de significado.

As imagens dão uma ajuda (dizem que valem mais que mil palavras), mas, neste livro-cinema, se levantares as páginas contra a luz, vais descobrir as letras que faltam no comboio. Ora espreita.

 

Fotografia: LU.CA/Alípio Padilha