Dentro do Coração
Informações técnicas
11H30 e 16H30
M/3
+3
30 min.
€3 < 18 anos
€7 > 18 anos
Descontos aplicáveis;
Descrição
Dentro do coração mora um imaginário variado e complexo. Um dia a minha filha de três anos perguntou-me: “Mãe, o que é que há dentro do coração?”.
Sinopse
O coração é uma carne dura, não facilmente ferida. Em dureza, tensão, força geral e resistência a ferimentos, as fibras do coração superam todas as outras, pois nenhum outro instrumento realiza um trabalho tão contínuo e árduo.
Cláudio Galeno séc. II d.C.
Dentro do coração mora um imaginário variado e complexo. Um dia a minha filha de três anos perguntou-me: “Mãe, o que é que há dentro do coração?”. Passei os dois dias seguintes a tentar formular uma resposta, não queria dizer-lhe apenas: “Elisa, o coração é um músculo! Um músculo que bombeia sangue para todo o corpo e que dentro tem quatro válvulas que regulam a passagem do sangue entre as suas cavidades. Existe uma válvula entre cada aurícula e ventrículo e uma válvula à saída de cada ventrículo. As válvulas entre as aurículas e os ventrículos são denominadas válvulas auriculoventriculares. E é isto, é isto que há dentro do coração.”
Os meus lábios tremiam ao imaginar a cara dela ao ouvir esta resposta, uma expressão de desilusão profunda cobrir-lhe-ia o rosto. Tinha de ser mais complexo, parecia-me uma resposta demasiado simples, reduzir o coração a uma parte do corpo, um músculo, que coisa mais sem graça. E o amor? A poesia? O sofrimento? A dor? Essas coisas também estão dentro do coração, não estão? Ao fim do segundo dia tentando formular uma resposta, a única coisa que consegui foi acoplar mais perguntas, reflexões e questões à pergunta que ela me tinha feito:
– Então e o Cupido? As suas setas provocavam ferimentos que despertavam amor ou paixão nas suas vítimas. Era no coração que se cravavam essas setas. Depois de enviado, por Vénus sua mãe a Psique, para que esta se apaixonasse pelo mais horrendo de todos os homens, acabou por se ferir a si próprio apaixonando-se loucamente por Psique.
– E a Branca de Neve a quem um caçador teria que tirar o coração como prova de morte da donzela mais bela de todo o reino? Não conseguiu, em vez do dela levou à rainha um coração de porco.
– E o coração roubado, oferecido, comido, pedido, ferido, emprestado, prometido, dado, partido ao meio ou em bocados? É só um músculo que bombeia sangue? Como raio é que um músculo deu azo a tantas histórias de amor, de vingança, de inveja e ciúme tórrido, de dor, angústia e desejo?