Os livros do concerto Ainda Mais Alto!
Os livros do concerto Ainda Mais Alto!
Afonso Cabral, Francisca Cortesão, Inês Sousa, Isabel Minhós Martins e Sérgio Nascimento, escolheram vários livros que orbitam à volta do concerto Ainda Mais Alto!
O MUNDO AO CONTRÁRIO, de ATAK, ed. Planeta Tangerina
Neste livro há páginas assim: no jardim zoológico, quem está dentro das jaulas não são animais, mas pessoas; no circo, há pessoas no lugar dos animais e domadores que são ursos, ou leões; e, numa cena de caça, vemos o que também não costumamos ver: um coelho a caçar um caçador humano! Este é, portanto, um livro que vira o mundo ao contrário e nos põe a imaginar o que seria se fosse tudo diferente, neste caso, tudo o contrário daquilo que é. Em alguns casos, a mudança não seria boa, claro, porque há coisas nos devidos lugares e que não queremos derrubar. Mas, em algumas situações, talvez a mudança tenha o seu interesse, nem que seja porque, através dela podemos fazer, mesmo que temporariamente, aquele outro exercício que é pormo-nos no lugar dos outros. Perguntas para pensar: o que queremos virar ao contrário no lugar em que vivemos? Na escola? No nosso bairro? No mundo?
GOSTO, LOGO EXISTO, de Isabel Meira, com ilustrações de Bernardo P. Carvalho, ed. Planeta Tangerina
As redes sociais, a internet e os telemóveis revolucionaram a forma como aprendemos, como acedemos à informação e como comunicamos uns com os outros. Foi uma mudança tão rápida e tão profunda que muitos de nós ainda estamos um pouco atordoados com o que nos foi acontecendo (sobretudo aqueles que ainda nasceram ou cresceram antes de tudo mudar). Mas, num tempo em que tudo nos chega em forma de avalanche ¬— imagens, palavras, opiniões, ligações entre as coisas — é importante conseguirmos parar e observar de perto a mudança. Quais as consequências de passarmos tanto tempo a olhar para ecrãs? As notícias que lemos online vêm de fonte segura? O que é manipulação e o que é verdade nas redes sociais? Até que ponto estamos dispostos a ir para receber um like? Queremos ser nós a estar aos comandos da nossa vida ou não nos importamos assim tanto que saibam o que fazemos, aquilo de que gostamos e precisamos? Desde que haja rede e dados, está tudo bem?
O DUELO, de Inês Viegas de Oliveira, ed. Planeta Tagerina
A paz, a paz, a paz… vivemos dias difíceis em que a paz parece ser um estado romântico em que só os loucos acreditam. Mas será assim tão absurdo desejar a paz?
Neste livro dá-se uma situação caricata: dois homens estão zangados (não sabemos a razão da zanga) e, como não conseguiram conversar e resolver o assunto, decidiram fazer o que se fazia antigamente: marcar um duelo entre os dois. O livro começa no início desse duelo quando ambos começam a contar os passos de costas voltadas: 1, 2, 3, 4, 5 passos… Normalmente seriam dez passos e depois virar-se-iam para disparar, mas aqui sucede algo invulgar: um dos homens distrai-se e continua a andar, entretido com a paisagem, com os seus pensamentos, com as coisas que vai encontrando. Afasta-se tanto que viaja pelo mundo e, no final do livro, vemo-lo escrever uma carta ao antigo inimigo. O que dirá esta carta, conseguem imaginar?
MÃO VERDE II, de Capicua, Pedro Geraldes, Francisca Cortesão e António Serginho, com ilustrações de Mantraste, ed. Edição de Autor
Estorninhos que caem do ninho. Borboletas que andam em bando e violetas que andam em ramo. Cerejas do Fundão e abacates exigentes. Plástico (que não é plâncton) e ervas daninhas que só praticam o bem. Adultos irresponsáveis e calões (e que não pensam no “depois”)… Isto e muito mais nos traz este livro, que é também um disco de música dedicado à ecologia. Para cantarmos mais alto os mistérios, as maravilhas e também as preocupações que devemos ter nesta relação (que não queremos que seja tóxica!) com o planeta e a natureza.
MIGRANTES, de Issa Watanabe, ed. Orfeu Negro
Pode um livro ilustrado ser um poema? Então não pode?!
Pode um poema ser triste e belo ao mesmo tempo? Continua a poder!
Pode um tema como os dos refugiados, deslocados e migrantes ser trazido para a mesa da conversa quando conversamos com crianças? Pode (e deve)!
Apesar de este ser um livro sem palavras não podemos permitir que o silêncio se instale à volta de um assunto tão delicado. A pergunta que faz sentido fazer (uma das muitas possíveis, claro) é esta: e se fossemos nós? Os nossos filhos? Os nossos avós? Os nossos amigos? Permitiríamos que ficassem na fronteira?
Podemos falar do assunto? Devemos!