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Livros espetaculares (mesmo!) para o Ciclo João Fazenda

Sara Amado
Fotografia de cena

O espetáculo em cena ali na sala chama-se Retrato falado, de modo que, para a Biblioteca do público, resolvi escolher livros calados. Mas, espera: livros calados?
Há quem lhes chame livros silenciosos, sim. Não porque não falam mas porque não têm palavras. São livros só com imagens.
O João Fazenda sabe ler e escrever, mas é um construtor de histórias sem palavras, um escritor de imagens, um ilustrador.
As imagens também contam histórias e nem tens de saber ler para poderes ler um livro.
Aqui ficam sete livros sem palavras e com mil histórias para contar. Experimenta abrir um. Tenho a certeza de que conseguirás ouvir uma voz — mil vozes!

 

Máquina
(Jaime Ferraz, ed. Pato Lógico)

Já reparaste como anda toda a gente de nariz metido no telemóvel? É certo que lá se passa muita coisa: mil ligações, conversas, informação.
Se calhar andas ansioso à espera do dia em que vais ter o teu telemóvel, o teu brinquedo-máquina. Talvez até tenhas pedido um de presente e afinal tenhas recebido… um livro.
Mas um livro é uma máquina ainda mais incrível! Se puseres o nariz lá dentro, vais ver: tem aplicações para mundos infinitos. Basta que te deixes ir na história com a tua imaginação eletrizante. Acredita que é bem maior que todos os bip-bips eletrónicos.

 

O balãozinho vermelho
(Iela Mari, ed. Kalandraka)

Folha branca, linha preta, mancha vermelha: eis a receita para este livro que já tem 50 anos! Um menino faz um balão de pastilha elástica que se solta da boca como uma bola de sabão.
De balão a maçã, de maçã a borboleta, de borboleta a flor, este balãozinho vermelho vai ser muita coisa até sair do livro, na última página. Conseguirás agarrá-lo?

 

Um dia na praia
(Bernardo Carvalho, ed. Planeta Tangerina)

De certeza que já apanhaste conchas e búzios na praia. De certeza que também já encontraste lixo — que podes ou não ter levado para o caixote.
Da próxima vez, experimenta juntá-lo numa construção. Pode ser que te surpreendas com a história que tem para contar. A beleza está nos olhos de quem olha: lixo ou búzios podem ser peças preciosas.

 

Sombras
(Marta Monteiro, ed. Pato Lógico)

Qual é coisa qual é ela que anda sempre connosco, quer queiramos quer não, e nos imita a toda a hora?
A sombra do Peter Pan escapou-se um dia e a Wendy teve de a coser novamente ao menino. Isso nunca me aconteceu – ela anda sempre comigo para todo o lado.
E se, de repente, as sombras não fizessem o mesmo que nós e resolvessem ter vida própria? Imagina quantas histórias poderiam contar-nos ao fim do dia, mesmo antes de apagarmos a luz e desaparecerem até de manhã?

 

Vazio
(Catarina Sobral, ed. Pato Lógico)

Umas vezes, sentimo-nos vazios; outras vezes, cheios: de fome, de ideias, de pensamentos, de sono, de sonhos, de fúria, de saudades, de medo, de alegria, de esperança. Alguns vazios são mais fáceis de encher que outros.
Repara neste homem branco como uma folha de papel antes de desenharmos nela. Ele sente-se vazio e procura, aqui e além, alguma coisa que o preencha. Será que vai conseguir encher-se de cor?

 

A meia perdida
(Anine Bösenberg, ed. Bruaá)

Já ouviste reclamar lá em casa que falta sempre uma meia? Pois é, há meias que se perdem para todo o sempre. Para onde irão? Se andassem nos nossos pés, a sua história confundir-se-ia com a nossa. Mas, quando se perdem, essas meias vão viver outras vidas.
Esta é a história de uma meia perdida. Ou de uma meia encontrada?

 

Dança
(João Fazenda, ed. Pato Lógico)

O homem e a mulher que dançam pelas páginas deste livro são tão diferentes como as cores que os pintam ou como as linhas retas ou curvas que os desenham.
Parece que este homem não se sente bem nos seus sapatos — que é uma expressão que se usa para dizer que não nos sentimos confortáveis com alguma coisa.
Talvez ele venha a perceber que nem sempre a linha reta é o melhor caminho.

 

Fotografia: EGEAC/José Frade