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Pensamento Conferência

Escrever às Escuras: a crítica de artes performativas e os espetáculos para crianças e jovens

LU.CA – Teatro Luís de Camões/Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
2 e 3 março 2022

Informações técnicas

Descrição

Como podem jovens e crianças desafiar, expandir e remodelar a crítica?

Sinopse

Esta conferência, que teve a sua primeira edição online em plena pandemia, acontece este ano no LU.CA e pretende explorar o tema da crítica especializada sobre espetáculos para crianças e jovens públicos, entendendo-a como uma forma de exercício crítico e de cidadania.

 

Entre outras matérias, procuraremos debater as seguintes questões: o teatro para a infância e juventude exige um tipo específico de crítica? O que é específico da experiência de críticos adultos que escrevem sobre espetáculos para públicos mais jovens? Que qualidade tem a experiência de um crítico adulto se o espetáculo não foi planeado para a sua faixa etária? O que implica uma crítica transgeracional e inclusiva? Quais as práticas de crítica? Que relações e que formatos de crítica são adequados para este tipo de espetáculos? Como podem jovens e crianças desafiar, expandir e remodelar a crítica?

 

Formulário de inscrição na Conferência Escrever às Escuras

 

 

PROGRAMA

 

2 de março – LU.CA – Teatro Luís de Camões

 

14h30 – 16h | Apresentação

Com: Susana Menezes e Rui Pina Coelho

 

Onde anda a crítica? Perfis e identidades

Com: Alexandra Balona, Bruno Horta e Elisabete Xavier Gomes

Moderação: Rui Pina Coelho

 

Alexandra Balona – Criticalidade como prática política

A minha prática crítica é situada, relacional e performativa. Tendo em consideração a natureza performativa da cultura, sempre aberta e em contaminação, é inviável o exercício da crítica como um julgamento externo assente em valores e categorias pré-definidas. Em alternativa, aproximo-me da ideia de “criticalidade” (Rogoff, 2003) como um processo relacional com a obra e com o/a artista, através do qual se produz pensamento, em vez de se atribuir significado. Trata-se de um processo complexo, que se deseja construtivo, e que pretende, sobretudo, abrir novos campos de questionamento sobre a contemporaneidade.

 

Alexandra Balona

É investigadora, crítica e curadora independente. É doutoranda em Estudos de Cultura com uma dissertação sobre a politicalidade da obra coreográfica de Marlene Monteiro Freitas. Foi co-curadora de Anton Vidokle – Citizens of the Cosmos, Metabolic Rifts, entre outros. Escreve crítica de dança no Jornal Público, publica na Contemporânea e Art Press.

 

Bruno Horta

Aconteceu em Portugal há quase 20 anos: um crítico de música convocou crianças para que fizessem a crítica de um álbum de Adriana Calcanhoto. Resultou, mas terá sido caso único. A imprensa vai-se alheando das artes performativas e da crítica. Fala para o público infantil sem cuidar da mensagem. As artes não dão audiências? As redacções estão rarefeitas e sem recursos? É alta a probabilidade de que a cobertura jornalística esteja equivocada e a falar para o umbigo. Quem se atreve a criar novos modelos?

 

Bruno Horta

Bruno Horta tem 40 anos, é jornalista desde 2003 e escreve no Observador. Já publicou na Time Out Lisboa, no Público, no Diário de Notícias, no Tal & Qual. Assinou uma biografia de António Variações e uma colectânea de textos intitulada “Aquele Lustro Queer” (2021). Licenciado em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social, dedica-se a temas de cultura e de direitos humanos.

 

Elisabete Xavier Gomes – Porque é que “infantil” é um adjetivo pejorativo?

Como professora de pedagogia, tenho-me confrontado com a difícil tarefa de dialogar com as conceções de infância que subjazem ao agir adulto quando este se dirige a crianças. Ser espectador na companhia de crianças – ser espectador e não vigilante nem tradutor nem explicador – pode oferecer-nos a oportunidade de nos relacionarmos autenticamente resistindo às visões futuristas da criança que vai ser o homem de amanhã… pergunto-me e pergunto-nos: a experiência de uma certa igualdade é possível entre adultos e crianças? É-o particularmente na presença de espéculos para crianças?

 

Elisabete Xavier Gomes

Interessa-se por temáticas de fronteira entre a educação e outras complexidades, como a vida nas cidades, a política ou as atividades artísticas e culturais. Concluiu, em 2011, tese de doutoramento em Ciências da Educação na Universidade Nova de Lisboa, com o título “Perspetivar as cidades como espaços públicos de educação de crianças”.

É, atualmente, professora adjunta na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal (ESE-IPS) e investigadora integrada no CICS.NOVA.

 

16h30 – 18h | O que é que a critica pode?

Com: Marcos Barbosa, Madalena Wallenstein, Tiago Bartolomeu Costa

Moderação: Susana Menezes

 

Marcos Barbosa – O crítico: sacerdote, oráculo ou médium?

Abordagem da ausência da crítica desde a solidão do palco. Ou como resolver o mistério do desaparecimento dos críticos em 20 minutos: a culpa é sempre do mordomo.

 

Marcos Barbosa

Encenador e ator, dirige o projeto Escola do Largo, em Lisboa. É o diretor artístico do Centro Internacional de Dramaturgia. Foi diretor do Teatro Oficina, em Guimarães, e programador das Artes Performativas de Guimarães Capital Europeia de Cultura. Encena teatro e ópera, com especial incidência no desenvolvimento da dramaturgia contemporânea. Realizou duas curtas-metragens: Têxteis-Lar e Mesa Ferida.

 

Madalena Wallenstein – Infâncias, criação artística contemporânea e participação

“Posso voltar? Posso ter isto mais vezes, em mais dias da minha vida, a pensar, a discutir, a filosofar?” (Ed. CCB/FA 2014), disse a Mariana (12 anos) no fim do debate a seguir ao espetáculo. O enunciado de Mariana sublinha a sua descoberta pelo prazer de pensar em conjunto e denuncia a falta de espaços para que possa entregar a si mesma esse projeto de crescimento e criação cultural. Tomando em mãos os conceitos de infâncias, criação artística contemporânea e participação, o teatro é cada vez mais o sítio excecional para tecer redes multigeracionais de encontro e desenvolvimento crítico que possam inscrever alguma coisa de permanente e que, por isso, a coisa jamais dispensará essa moldura estética e política que permite refletir sobre o mundo, a vida e o lugar de cada e de todos nele. Habita aí uma espécie de órgão vivo de três corações e cabeças (programação, criação artística e públicos), em movimento e em permanente retroalimentação, numa escuta atenta às infâncias para acedermos ao que seja a sua arte e/ou como é que as coisas se tornam artísticas para elas.

 

Madalena Wallenstein

Trabalha desde 1987 como educadora artística, alternando a atividade entre contextos de criação artística, de educação formal e não formal, e de intervenção em pedagogia social com crianças e jovens. Enquanto programadora do CCB/Fábrica das Artes – para todas as infâncias, desde 2008, tem desenhado e/ou coordenado projetos curatoriais dirigidos a públicos jovens e mistos que articulam o polo da criação artística com o polo da receção, procurando rasgar aberturas e caminhos para a participação e reflexão crítica.

 

Tiago Bartolomeu Costa – “O que estás a escrever?”

Em 2005, durante o espetáculo de uma companhia cujo nome já não recordo, apresentado no âmbito do Festival Internacional para a Infância e Juventude, em Montreal, uma menina perguntou-me o que estava a escrever. Perguntei-lhe se ela já tinha ouvido falar de críticos de teatro. Era isso que fazia, escrever sobre espetáculos, respondi-lhe. Ela devolveu-me a pergunta, querendo saber se eu via, realmente, o que estava no palco. Disse-me: “Olha em frente! Para ali. Não olhes para o papel”. Tinha razão, claro.

Partindo de três casos: Matrioska, de Tiago Guedes, 2007; Barulhada, de Tânia Carvalho, 2007; e Nocturno, de Victor Hugo Pontes, 2017, Tiago Bartolomeu Costa procurará refletir sobre o lugar destas peças no percurso de coreógrafos e o desafio de as traduzir do ponto de vista pedagógico e discursivo.

 

Tiago Bartolomeu Costa

Crítico de artes performativas para o jornal PÚBLICO entre 2006 e 2014, desenvolveu projetos editoriais de análise de espetáculos. Editou e assinou publicações sobre coreógrafos, encenadores, companhias de dança e equipamentos culturais. Desenvolveu, aconselhou e programou espetáculos em teatros e festivais. Acompanhou, dramaturgicamente, criações de teatro, dança e circo contemporâneo. Participou no desenvolvimento de políticas culturais em gabinetes ministeriais.

 

 

3 de março – LU.CA – Teatro Luís de Camões

 

10h00 – 13h00

Jornada de discussão e debate – Mesa Redonda (primeira ronda):

E a crítica sobre espetáculos para crianças e jovens?

Com: Catarina Firmo, Inês Barahona, Marco Paiva, Dora Batalim

Moderação: Susana Menezes

 

Catarina Firmo – Spooky faces, fantasmas e outros incómodos do mundo das marionetas

Na crítica aos espetáculos de marionetas, o imaginário da infância é muitas vezes um bom pretexto para falar de assuntos sérios. No universo das formas animadas, o encantamento traça linhas de encontro com lugares de estranheza e sobressalto, tocando em questionamentos transversais a todas as idades. Como é que a crítica fala dos espaços incómodos quando se refere ao campo das marionetas? Que discursos encontramos quando se trata de convidar crianças e adultos a acolher temas sombrios, como o medo, a morte ou o fracasso? Existe espaço para o sonho e para a leveza nesse convite?

 

Catarina Firmo

Investigadora num projeto dedicado ao estudo de marionetas contemporâneas acolhido pelo Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Doutorada em Estudos de Teatro pela FL.UL e em Estudos Portugueses pela Université Paris 8. Professora Adjunta Convidada na ESELx-IPL. Docente na Université Paris 8 entre 2009 e 2016.

 

Inês Barahona – A prática sem crítica e a prática da crítica

Começando pela partilha da experiência nacional e internacional de contacto com a crítica por parte da Formiga Atómica, Inês Barahona irá refletir sobre a ausência de discurso crítico e a aceitação desta mesma ausência. Pretende ainda pensar sobre a prática sem crítica e a prática da crítica, o preconceito em relação à “infância” e a prática artística como promotora do pensamento crítico.

 

Inês Barahona

Nasceu em Lisboa, em 1977. Licenciada em Filosofia e Mestre em Estética e Filosofia da Arte pela Faculdade de Letras (Universidade de Lisboa). Fundou e dirige com Miguel Fragata a Formiga Atómica (desde 2014), sendo co-criadora dos espetáculos “A Caminhada dos Elefantes”, “The Wall”, “A Visita Escocesa”, “Do Bosque para o Mundo”, “Montanha-Russa”, “Fake” e “O Estado do Mundo (Quando Acordas)”. Encenou os espetáculos “A Verdadeira História do Teatro” (2012) para o Teatro Maria Matos e “A Verdadeira História da Ciência” (2013) e “Direito de Autor” (2014) para a Fundação Calouste Gulbenkian. Trabalhou em diferentes domínios da criação, nomeadamente no texto e dramaturgia, com Madalena Victorino (“Caruma” e “Vale”), Giacomo Scalisi (“Teatro das Compras”), Teatro Regional da Serra de Montemuro (“Sem Sentido”), Catarina Requeijo (assistência de encenação ao espetáculo “Amarelo”, texto de “A Grande Corrida”, “Muita Tralha, Pouca Tralha” e “Não há duas sem três”) e Circolando. Sob a direção de Madalena Victorino, integrou o Centro de Pedagogia e Animação do Centro Cultural de Belém, onde desenvolveu, entre 2005 e 2008, projetos de relação entre as artes e a educação para público escolar, familiar e especializado. Em 2008, desenvolveu para a Direção-Geral das Artes, com Madalena Victorino e Rita Batista, “O Livro Escuro e Claro”, cuja distribuição acompanhou, dando formação a equipas e professores. Colaborou ainda neste ano na conceção da exposição “Uma Carta Coreográfica” da autoria de Madalena Victorino, para a Direção-Geral das Artes. Integrou a equipa de Giacomo Scalisi, vertentes de Produção e Relação com a Comunidade, na inauguração do Teatro Municipal de Portimão, entre Outubro e Dezembro de 2008.

Deu formação nas áreas da comunicação e escrita para adultos na Fundação Calouste Gulbenkian, Sou – Movimento e Arte, L2G, Circolando e Artemrede.

 

Marco Paiva – A crítica como espaço de encontro

Pensemos na crítica teatral como uma ponte. Um espaço de encontro entre quem faz e quem vê. Quem decide fazer, porque o faz? Quem chega para ver, como regressa a casa? Pode a crítica teatral nos espetáculos para crianças e jovens centrar-se nesta relação? Pode a crítica teatral aproveitar este território para repensar a relação entre artistas e públicos a partir do ato iniciático de quem chega pela primeira vez? Talvez possa.

 

Marco Paiva

Licenciado em Teatro ‐ Formação de Atores pela Escola Superior de Teatro e Cinema. Concluiu em 2008 o Curso Europeu de Aperfeiçoamento Teatral École Des Mêitres. Tem uma Pós-Graduação em Empreendedorismo e Estudos da Cultura – Ramo de Gestão Cultural, no ISCTE. É diretor artístico da Terra Amarela – Plataforma de Criação Artística Inclusiva.

 

Dora Batalim SottoMayor – Os livros infantis e as relações entre o desenvolvimento da criança e as propostas culturais

Materializadas nos espetáculos, com incursões e paralelos no campo dos livros infantis – que são minimundos artísticos e miniespectáculos portáteis em si mesmos – proponho uma sessão de pensamento sobre as relações entre o desenvolvimento da criança e as propostas culturais. A ideia base é que a crítica, para sê-lo, no caso específico da infância – e ao contrário da dos espetáculos para adultos – tem de contemplar em profundidade o conhecimento das formas de receção deste público, que variam de forma substancial e rápida, de acordo com as etapas de crescimento. Assim, se cumprirá inteiramente e em pertinência, oferecendo-se aos criadores, por um lado, e aos mediadores adultos que escolhem pelas crianças os espetáculos, por outro. Um papel fundamental de cruzamentos, dotado de conhecimento, sensibilidade e experiência, idealmente, em equipa multidisciplinar. Em causa está potenciar e concretizar o valioso contributo das artes no desenvolvimento da identidade do ser humano, neste caso, das propostas artísticas (várias) que acontecem em lugares chamados TEATRO.

 

Dora Batalim SottoMayor

É especialista em livros infantis e em pedagogia das artes nas primeiras Infâncias. Licenciada em Literatura, é pós-graduada em Sociologia (Comunicação e Cultura) e Ciências da Educação (Educação e Leitura). Tem mestrados em Livros e literatura Infantil e em Educação, ambos da Universidade Autónoma de Barcelona. Tem cursos em Pedagogia Waldorf e em Terapia Artística.
Foi investigadora do Centro de Estudos de Teatro da FLUL. Coordenou o Serviço Educativo da Bedeteca de Lisboa e a equipa intervenção artístico-educativa do Gabinete de Reconversão do Casal Ventoso. Foi consultora e formadora do Projecto Levar a Ler da Câmara Municipal de Cascais. Fez parte da equipa do Serviço Educativo do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian e de outras instituições culturais, como o Museu Berardo ou a Culturgest, desenvolvendo atividades de carácter artístico-pedagógico para o público infanto-juvenil e adulto.
Foi jurada em várias edições do Prémio Nacional de Ilustração e de outros concursos ligados à área do livro infantil.
Foi docente da Escola Superior de Educadores Maria Ulrich e integrou a Direcção Pedagógica do Jardim Infantil Pestalozzi. É criadora, coordenadora pedagógica e docente da Pós-graduação em Livro Infantil da Universidade Católica de Lisboa. No curso de Educação do ISPA, lecciona nas áreas do livro Infantil, literatura, cultura e da pedagogia das artes nos cursos de licenciatura, mestrado e pós-graduações. Cria e adapta materiais pedagógicos. Traduz e revê livros para crianças.